quarta-feira, 13 de abril de 2011

Isso não deveria estar aqui.

     Eu não vou ligar pra ninguém porque as pessoas tem mais o que fazer, como estudar pra prova, ver novela ou postar no facebook, do que ouvir as besteiras que eu tenho pra falar -agora não são besteiras, mas daqui a 15 minutos vão ser, como tudo que eu escrevo. Eu não tenho aula segunda feira, são 3 dias pra ficar aqui em Canoas sozinha estudando, porque eu tenho uma super provinha segunda que vem.
    Parece que foi ontem que eu olhei pelo vidro da janela a chuva caindo as cinco e meia da tarde. Uma música do Lulu Santos era a trilha sonora da abertura da malhação. Até hoje me sinto triste quando eu ouço aquela música. Esse era o horário que minha mãe chegava do trabalho. Mas ela viajava muito e as vezes não chegava no horário da malhação, nem no outro dia. Eu ficava triste mas nunca reclamava, nunca deixava transparecer minha tristeza, era fria, dura e conseguia esconder muito bem. Eu seria uma boa atriz, sério mesmo. No fundo eu sabia que era o trabalho dela, que era importante e que um filho não pode acabar com a vida de uma mãe. O filho cresce, monta sua própria vida. E a mãe? Largou o emprego, parou de estudar e agora? A vida não é mais assim, a vida é mais difícil para os filhos com mães modernas que pensam que conseguem conciliar maternidade, emprego e estudo. Pensam que conseguem. Os filhos sofrem, eu sei bem. Mas sobrevivem, talvez mais fortes que os outros, mais independentes.
    O João tem só 5 meses e eu não sei se ele sente minha falta. Eu não me lembro dessa época da minha vida e não sei se sentia tanta falta da minha mãe do que quando aprendi a pensar. Mas eu já não tenho 5 meses e sinto essa falta. Aprendi a pensar por mim mesma e são poucas as pessoas de quem eu ouço alguma opinião. Contando nos dedos: 4 pessoas. E não é por achar que a opinião das outras não é boa. Mas na maioria das vezes, o que é bom pra você, não serve pra mim. E se você acha que eu deveria ficar e estudar pra prova, que se dane você! Eu confio mais em mim do que em qualquer outra pessoa. Talvez eu fique aqui, mas isso não é o que eu quero. Eu tô mais triste agora do que quando olhava pela janela e esperava a minha mãe chegar. E eu não quero que Lulu Santos volte a cantar dentro de mim.
   Isso não era para estar aqui. Foi só um desabafo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dos tempos em que a calçada era macia.

     Ainda lembro de quando saí pela primeira vez com minhas amigas. Uma dessas festas de cidade pequena - mais de 50 pessoas e a festa já deu boa. Quando o cansaço batia, sentávamos na escadinha da frente do clube. A calçada parecia tão macia, tão confortável, pássavamos horas lá antes de conseguir uma carona pra aliviar a dor nos pés e o frio da madrugada. Nos domingos, a praça é que era o lugar onde todos íam. Sentávamos no encosto do banco de madeira. Uma ripinha finíssima, muitas vezes suja e quebrada. Mas era tão macia e confortável quanto a calçada da frente do clube. Ficávamos lá até o Deco mandar todos descerem e sentarem direito no banco. A praça não tinha uma folha fora do lugar. O Deco se empenhava em limpá-la, talvez por falta do que fazer, por falta de uma família presente, por falta de amor.
    Passei pela frente do clube esse final de semana. Está bonito, pintado e nem parece o mesmo. A praça está suja, cheia de folhas e copinhos descartáveis descartados na grama. Da pracinha das crianças restam 2 balanços e um escorregador. A calçada e o banco não parecem ser tão macios quanto eram antes. Mas as coisas mudam não é? O Deco morreu e as pessoas andam muito ocupadas pra prestar atenção no lixo jogado na grama da praça. Pelo menos o céu deve estar limpo, sem uma nuvem fora do lugar. Pensando bem, não sei se foram as coisas que mudaram ou se fui eu quem mudei. Porque a praça continua cheia aos domingos e os adolescentes continuam sentando no encosto do banco. Mas eu prefiro acreditar que eu não mudei. Caso contrário estaria admitindo que os bancos e as calçadas ficam duras depois dos 20. É triste quando as coisas mudam sem você perceber. Aí um dia você abre os olhos e vê que as maiores mudanças aconteceram dentro de você e consequentemente refletam lá fora.
     Quero muito que meu filho sente em uma calçada macia e confortável na madrugada fria de uma cidade pequena. Sem trânsito, sem avião, sem prédios com mais de 4 andares. Eu olho pra noite de Porto Alegre e não vejo nenhuma estrela, porque as luzes da cidade ofuscam o brilho do sol que se escondeu e que reflete nas estrelas. Tenho saudade dos tempos em que a calçada era macia.