quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Me curei.

Eu só vou me curar depois que te falar toda a verdade meu pequeninho. Porque parece uma doença, daquelas que te deixam de cama por dias e dias e não te deixam ver o sol que continua brilhando lá fora. Eu falei em um texto mais antigo que eu tinha nascido por engano ou que alguém tinha me empurrado lá do céu. Sabe, acho que você também. Isso não é uma coisa ruim meu amor, os anjinhos que chutam os bebês lá do céu e mandam aqui pra terra sabem o que fazem, eles só estão obedecendo Deus. Eu vou te ensinar a obedecer Deus também, acho que vai ser a parte mais difícil, porque eu desobedeço ele todos os dias. Queria que você conhecesse tanta coisa além da placenta, do líquido amniótico e do cordão umbilical. Ás vezes eu tenho medo das pessoas, se você conhecesse algumas, você também teria. Em oposição, existem outras pra compensar, que ao contrário do medo, te dão força! Essas eu quero que tu conheça. Elas são como a placenta e o cordão umbilical: te protegem e te dão nutrientes pra enfrentar as batalhas que Deus quer que a gente vença. A vida é bem boba ás vezes. Mas a mamãe vai te dar a mão e vai errar com você quantas vezes for preciso e a gente vai levantar e continuar andando. E se o tombo for muito grande, a gente tem o papai. Por isso você vai nascer com duas mãozinhas: uma pra cada um. Eu sei que você pode ouvir tudo aqui de dentro, vai nascer sabendo anatomia e bioquimica né? A mamãe tá estudando e vai ser médica. Você pode ser o que quiser sabe, até astronauta. Eu já quis ser astronauta, mas desisti. Eu vou te ensinar a desistir também. É tão importante quanto continuar tentando. A gente vai ser muito feliz, eu te prometo. Vou te ensinar a ler logo, assim você saberá que mesmo sendo empurrado lá do céu, tinham 4 mãos pra te pegarem aqui embaixo. Boa noite meu anjinho, eu te amo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Saudade

Eu vou falir meu pai em passagens de ônibus, vou ter problema de circulação nas pernas por passar tanto tempo sentada na mesma posição, vou engordar 20 kg por comer tanta porcaria nas viagens e vou enlouquecer se mais alguém que por acaso sentar ao meu lado, resolver me contar a sua vida inteira. Mas eu juro que prefiro passar por tudo isso, do que sentir saudade. Vou confessar, claro que eu sinto saudade dos meus pais, da minha irmã e das minhas amigas. Porém essa é uma saudade suportável, eu aguentaria numa boa. A saudade insuportável é a saudade de quem se ama. Porque você não pode perguntar o que ele comeu de café da manhã, se resolveu tomar leite como você recomendou, se adquiriu uma nova marca roxa resultado do futebol, se assistiu Todo mundo odeia o Cris... No fundo você sabe que vai chegar o final do dia e ele não vai bater na porta tapando o olho mágico com o dedo, fingindo que você não sabe quem é. E o dia vai acabar, parecendo que nem começou, porque se ele não vem é como se as coisas não tivessem acontecido.
Eu posso demorar três meses pra voltar pra casa que eu sei que meu pai vai continuar ligando a tv durante o almoço, minha mãe desligando logo em seguida e minha irmã não querendo comer carne por dó dos 'amiguinhos'. Eles vão estar ali, podem cortar o cabelo, ter engordado uns quilinhos, pintado o cabelo de uma cor diferente, mas vão me abraçar quando eu chegar, a mãe vai fazer um jantar delicioso, o pai vai me buscar na rodoviária e minha irmã vai reclamar: Hum, sei porque tem janta boa hoje, a 'querida' veio.
As amigas podem mudar, podem arrumar outros amigos, outros amores, outras histórias, mas aquelas que a gente viveu juntas vão ser sempre as mesmas, não tem como mudar e só lembrá-las para o sentimento voltar a ser mesmo. A amizade tem dessas coisas, o passado faz com que ela nunca mude, permaneça intacta, permanente, estável.
Já o amor... É como deixar um carro na rua por 3 meses, abandonado. Ele pode ter alarme, sistema de trava elétrica, blindagem... Mas você não sabe se alguém o riscou enquanto passava do seu lado, se furou um pneu, se os passarinhos o sujaram durante a noite, se outro carro resolveu ocupar o mesmo espaço e já não existe para choque, ou pior, se alguém conseguiu roubar, mesmo você tendo investido tanto em segurança. O amor é instável, inseguro, imaturo, inconsequente. É por isso que é essa a saudade mais insuportável de todas, por medo que ela não seja recíproca. Por medo de ele ter mudado o cabelo e alguém a mais ter reparado, por medo de ele conhecer pessoas novas e você não parecer tão legal assim perto dos outros, por medo de ele deitar na cama a noite e o seu último pensamento ser: "Droga, amanhã tenho que trabalhar cedo"! Saudade se tem de quem já se conquistou por inteiro, de quem não precisa de alarme, blindagem e travas de segurança. Dor de saudade se sente por quem se ama e está longe. Mesmo por telefone ou internet, ainda falta o mais importante: olhar nos olhos e ver que não tem nenhum risquinho a mais na retina, que as marcas roxas já sumiram do último futebol, que o cabelo continua fofinho, e o mais importante, ninguém conseguiu levá-lo embora.
Eu posso viajar um dia todo, aguento as velhinhas contando a sua vida, o formigamento da perna e meu pai pedindo se tem cara de banco, mas do meu carro eu cuido bem e essa tal dor, já não sinto mais.

Do que você precisa para ser feliz?

Quando eu tinha uns 8 anos, 1 milhão de reais era muito dinheiro. Eu ficava imaginando o que faria se tivesse tudo isso e por mais que comprasse tudo que a minha imaginação permitia, o dinheiro nunca acabava. Esses dias, quando a Mega sena estava acumulada em 90 e alguns milhões eu falei: nossa, eu nem saberia o que fazer com tanto dinheiro, queria só 1 milhão. Mas meu pai me lembrou que eu não tinha mais oito anos, com a frase: Se você comprar uma casa legal, se foi o teu 1 milhão...
Foi aí que eu me dei conta que 1 milhão não é nada! Quer ver como eu gasto rapidinho? Começando pelos estudos: com 260 mil eu acho que me formo, 50 mil de um carro, uns 400 mil de uma casa com piscina e escada interna, 10 mil pra criar um filho até os 10 anos (se for menino), 200 mil pra comprar uma fazenda, 60 mil pra manter tudo isso anualmente. Fechou! E ainda me faltaram 30 reais pra comprar um cone. Mas pensando bem, sabe do que eu preciso pra ser feliz? De um copo de leite com nescau, 6 horas diretas de Dr. House, pra poder passar o resto do dia hiperativa e incoerente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

E aí Deus, valeu pelo dia de hoje!

    Ontem eu estava muito mal. Sabe quando você acha que tem o maior problema do mundo¿ É. Mas esse problema não é só meu então, me sinto na obrigação de consolar a outra pessoa envolvida: “As coisas nunca são tão ruins quanto parecem, o fato é que elas assustam no começo.” E como assustam...

    Fui dormir pensando nisso e me deu vontade de rezar, coisa que admito, raramente faço (espero que minha mãe não leia isso). Não é falta de fé, preguiça ou descaso, é simplesmente costume. Penso que sentir compaixão por alguém, fazer uma boa ação ou aceitar a si mesmo é tão bom quanto dizer: e aí Deus, valeu pelo dia de hoje! Para mim a primeira opção é mais proveitosa, mais fácil, mais sincera.
    Só sei que antes de encostar as pálpebras, me imaginei em um lugar lindo, era uma praia, eu estava sozinha e uma luz me engolia e tirava tudo que estava me incomodando. Nessa hora a porta do banheiro bateu com muita força e me desconcentrou. Os problemas voltaram e Deus ficou pra lá. Acordei tarde, pois não tinha aula de manhã. Acordei assustada com a ventania que fazia lá fora. Sinceramente nunca tinha visto um vento tão forte. Liguei a TV: Ventos extramente fortes atingem a capital do estado e região, soprando de oeste para noroeste. As portas batiam, as arvores balançavam seus galhos, derrubavam suas folhas. Os papéis que estavam no chão voavam para longe, uma cena deprimente. Pensei comigo mesma: Mas que droga de vento! Meu cabelo vai ficar uma droga, tenho que levar os livros na biblioteca ainda e depois ir pra aula. Que inferno!
    Almocei e fui pra aula. Realmente meu cabelo ficou uma droga! Aula de bioquímica, café, aula de bioquímica. Quando a aula acabou, me separei das minha colegas pois precisava passar no banco. Na volta pra casa, o vento parecia ainda mais forte, mas ao contrário da ida pra faculdade, agora ele soprava contra mim, me fazendo diminuir os passos, jogando meu cabelo para trás, trazendo as folhas amareladas das arvores pra perto de mim. E inacreditavelmente me senti bem. Como se o vento estivesse carregando todos os problemas pra longe. Devo ter sorrido nessa hora, porque uma guria passou por mim e sorriu também.
    “As coisas nunca são tão ruins quanto parecem, o fato é que elas assustam no começo.” Se o vento sopra bagunçando seus cabelos, se ele te incomoda fazendo você engolir poeira e assusta com aquele barulho de chicote no ar, mude a SUA direção, faça com que ele jogue teus cabelos pra trás, te faça andar mais devagar pra poder perceber que por pior que seja teu problema, sempre existe um jeito de usa-lo a seu favor.

O que eu vou dizer hoje, antes de dormir¿ “E aí Deus, valeu pelo dia de hoje!”

Simples como qualquer palavra

Palavra, tenho que escolher a mais bonita

Para poder dizer coisas do coração

Dar a letra de quem lê

Toda palavra escrita ou rabiscada

No joelho, guardanapo ou chão

Ponto pula linha travessão

E a palavra vem

Pequena, querendo se esconder no silêncio

Querendo se fazer de oração

Baixinha como a altura da intenção e na insegurança

Vírgula, parênteses, exclamação

Ponto pula linha travessão

E a palavra vem ...



Vem sozinha

Que a minha frase invento pra te convencer

Vem sozinha ...

Se o texto é curto aumento pra te convencer

Palavra, simples como qualquer palavra

Como qualquer palavra

(OTM)

domingo, 12 de setembro de 2010

Eu não sei se era pra eu ter nascido. Imagino que alguém tenha me empurrado ou eu tropecei e nasci por engano. Parecia um bebê saudável, mas fui crescendo e acho que meus pais pensaram que eu não ia me criar. Sempre fui muito magrinha, tinha medo de tudo que fizesse barulho, não falava muito, mas tinha saúde, era o que importava. Quando eu tinha 2 anos, um primo meu, com o qual eu brincava, morreu com um choque. Mas eu continuava brincando com ele, falando com ele, o que preocupava muito a minha mãe e fez com que a visita de um padre fosse constante lá em casa. Acho que isso fez com que minha sensibilidade em relação às almas do outro mundo fosse parcialmente esquecida. Nasci no interior, brinquei com barro, subi em arvores, mas nunca tive muitos amigos, talvez por ser uma criança sincera demais. Minha mãe conta que fomos visitar uma amiga dela e a filha me deu um ursinho para brincar. Eu recusei dizendo: Não quelo mãe, ta sujo! Minha mãe perdeu amigas por minha causa. Prestava muita atenção na conversa dos adultos e uma vez ouvi a minha mãe falar que a afilhada dela era uma vespa de tão brava. Justo em um dia que a tal afilhada veio visitar a minha mãe, eu comia uma bolacha sentada no chão e uma vespa pousou nela. Corri gritando pra minha mãe: Mãaaaae, olha só, a tua afilhada ta na minha bolacha! É, eu era bem espertinha. Nos mudamos pra cidade quando eu tinha 6 anos. Eu não ia no mercado sozinha, não tinha amigos, não falava com ninguém. Na verdade eu tinha medo das pessoas e quanto mais cresço, mais sei que eu tinha razão. O fato é que eu sempre preferi os mais quietos, os tímidos como eu. Quanto menos as pessoas falam, mais elas pensam. Só que assim, ninguém falava e eu continuava só pensando. Adorava ouvir as conversas dos adultos, eram bestas e até hoje eu morro de medo de falar uma coisa adulta demais. É preciso ser idiota pra ser feliz, fazer coisas idiotas, errar. Meu quarto era gigantesco, mesmo eu dividindo-o com minha irmã, e ainda com o guarda-roupa da empregada. Hoje tenho um quarto só pra mim e ele parece minúsculo. Mas na verdade sei que fui eu quem cresci. Quando somos crianças achamos que o mundo é gigante. Hoje eu sei que ele é menor que o meu cérebro. Desde a primeira série tirei notas boas na escola, era a melhor aluna, sentava na frente. Sonhava em mudar o mundo e a profissão que mais se encaixava nesse sonho era a medicina. Hoje no 1º semestre da faculdade eu vejo que não vou poder mudar nada. Meu professor falou: Primeiro vocês vão estudar no modelo anatômico, depois no cadáver, depois no pobre e aí sim vão poder curar o rico. Foi um balde de água fria na minha cabeça. E eu sei que eu posso ajudar, atender de graça, fazer um projeto social, mas também sei que eu não vou fazer nada disso. Muito trabalho, pouco dinheiro. A vida custa mais caro que uma mansão na praia, um iate e um cavalo na fazenda. E eu estou aprendendo aos poucos que não se pode mudar o mundo, ele te muda antes. Já devorei todos os livros que tem lá em casa. Desde O pequeno príncipe até aquelas revistas Pequenas empresas, grandes negócios. Lembro que minhas amigas passavam lá em casa no domingo a tarde: Gabi, vamos sair? E eu: Não posso, to lendo! Minha mãe pensava que eu não ía dar trabalho. Quietinha, gostava de ler, não precisa mandar estudar e nem deixar de castigo por ter saído escondido. Ah mãe, filhos vem ao mundo pra dar trabalho, inclusive os que vêm por engano. Eu prometo que não vou ser presa, mas o resto... Vou ver até quando consigo me manter viva nesse mundo que não era pra ser meu.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

E se formos só crianças?

Há dias ando pensando nas mudanças que aconteceram em mim em um intervalo de tempo muito curto. Tão curto que não consigo assimilar. E assim vivo como se não vivesse, coloquei no piloto automático e sigo em frente. São mudanças internas, essas são as piores, porque no fundo você quer que as pessoas percebam, mas nesse mundo tão desligado da alma, não há quem perceba. Certo dia, liguei a tv e passava uma novelinha de espíritos. Ah! Essa promiscuidade com as almas do outro mundo, como se existissem almas neste... Eu me daria melhor no outro mundo. E quando você consegue tudo que pensava que queria, já não é o que te faz feliz. A felicidade é um estado transitório. É uma alma habitando seu corpo temporariamente. E quando ela vai embora, então... Já não sei viver e só. Há alguém com medo dentro de mim. E o medo se transforma em lágrimas quase sempre. Deixei de acreditar na vida quando estudei que as lágrimas fazem parte do nosso sistema de defesa. Liberam hormônios e depois do pranto a sensação de leveza. A ciência acaba comigo, dissolve o resto da fé que ainda existia aqui dentro. Preciso que alguém perceba o que mudou em mim, porque eu não consigo falar. E se eu ainda não cresci o suficiente? E se todos formos ainda crianças? E se o medo for meu? Medo de mim mesma.