segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dos tempos em que a calçada era macia.

     Ainda lembro de quando saí pela primeira vez com minhas amigas. Uma dessas festas de cidade pequena - mais de 50 pessoas e a festa já deu boa. Quando o cansaço batia, sentávamos na escadinha da frente do clube. A calçada parecia tão macia, tão confortável, pássavamos horas lá antes de conseguir uma carona pra aliviar a dor nos pés e o frio da madrugada. Nos domingos, a praça é que era o lugar onde todos íam. Sentávamos no encosto do banco de madeira. Uma ripinha finíssima, muitas vezes suja e quebrada. Mas era tão macia e confortável quanto a calçada da frente do clube. Ficávamos lá até o Deco mandar todos descerem e sentarem direito no banco. A praça não tinha uma folha fora do lugar. O Deco se empenhava em limpá-la, talvez por falta do que fazer, por falta de uma família presente, por falta de amor.
    Passei pela frente do clube esse final de semana. Está bonito, pintado e nem parece o mesmo. A praça está suja, cheia de folhas e copinhos descartáveis descartados na grama. Da pracinha das crianças restam 2 balanços e um escorregador. A calçada e o banco não parecem ser tão macios quanto eram antes. Mas as coisas mudam não é? O Deco morreu e as pessoas andam muito ocupadas pra prestar atenção no lixo jogado na grama da praça. Pelo menos o céu deve estar limpo, sem uma nuvem fora do lugar. Pensando bem, não sei se foram as coisas que mudaram ou se fui eu quem mudei. Porque a praça continua cheia aos domingos e os adolescentes continuam sentando no encosto do banco. Mas eu prefiro acreditar que eu não mudei. Caso contrário estaria admitindo que os bancos e as calçadas ficam duras depois dos 20. É triste quando as coisas mudam sem você perceber. Aí um dia você abre os olhos e vê que as maiores mudanças aconteceram dentro de você e consequentemente refletam lá fora.
     Quero muito que meu filho sente em uma calçada macia e confortável na madrugada fria de uma cidade pequena. Sem trânsito, sem avião, sem prédios com mais de 4 andares. Eu olho pra noite de Porto Alegre e não vejo nenhuma estrela, porque as luzes da cidade ofuscam o brilho do sol que se escondeu e que reflete nas estrelas. Tenho saudade dos tempos em que a calçada era macia.

2 comentários:

  1. Saudades das conversas fiadas na praça até altas horas, das risadas, dos mates, das festinhas que só nós achava legal eu acho...hahaha, saudade do Deco e da sua grama limpa e das reinações pra não sentar em cima do banco, saudade da pracinha com todos os brinquedos (que nunca foram novos, Saudades da gente, de como a gente era.
    Eu quero que meu filho (quando eu tiver um) que ele também viva numa cidade que dê para enxergar as estrelas e sentar em calçadas macias.

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  2. tambem quero que meus filhos sentem na calçada macia de uma cidade pequena...que talvez por ser pequena tem um brilho especial...mais que isso quero que meus filhos tenham amigos/amigas especiais como eu tenho...saudades de tudo que passamos juntoas!

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