terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um quarto, um mundo.

A vantagem de ser filho único é não precisar dividir quarto com os irmãos. Mas quando se fala em vantagem, me esqueçam. Eu sou três anos mais velha que a minha irmã e antes de ela nascer não sabia nem o que era quarto (mentira). Existe a vantagem de ter alguém pra conversar antes de dormir, alguém para apagar a luz quando você está longe e para compartilhar seus medos de bicho papão e monstro de baixo da cama. Se bem que essa última parte dos medos não combina muito comigo. Meus medos sempre foram diferentes. Tinha medo de liquidificador, de vassoura e de pessoas que falavam muito. Eu superei o do liquidificador e o de vassoura. O fato é que enquanto a gente é pequeno, o mundo parece grande e em um quarto cabem você, sua irmã e todos os medos juntos. O quarto começa a ficar pequeno quando sua irmã começa a gostar de jogadores de futebol e colar cartazes na parede com aquele loirinho lá sabe? O Lucas, que jogava no Grêmio e agora está na seleção. Eu não gosto de jogadores de futebol. Depois começam a chegar os amigos dela e por aquele tênis em cima do seu edredon branco. As amiguinhas pra brincar de salão de beleza e suas maquiagens já eram. Afinal, são três anos de diferença. E em três anos a vida muda. As crianças (in)felizmente crescem e o mundo gigantesco do seu quarto, fica pequeno. "Mãe, eu quero um quarto só pra mim." Todos precisam de um quarto. Sem fotos de Lucas. E quando isso acontece, você passa a ter um mundo pra decorar, pode deixar os pensamentos livres, dormir só de calcinha, ouvir música, ler de madrugada e bem vinda solidão! Nunca achei que solidão fosse algo ruim. A palavra solidão me soa tão bem. É preciso entender o real significado de algumas palavras. E no caso do quarto, solidão e liberdade se confundem. Seu quarto poder ter só uma cama e um guarda-roupa, mas se você estiver cheio, ele se torna um mundo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Você escolhe filho!

Você nem nasceu e já andam decidindo a tua vida sabia? Deve ser mania de pai, mãe e tias babonas.Eu sempre me perguntei porque era gremista. Não lembro de ter escolhido um time. Só lembro de ter uma caneca do Grêmio e um pedaço de tecido com o símbolo gremista que fiz minha mãe costurar em uma blusa. Se alguém pedia para qual time eu torcia, respondia sem pensar: Grêmio! Mas juro que até hoje não sei porque. Quando morei em Floripa, por dois anos, foi que descobri como é escolher um time. Porque aí eu escolhi torcer pro Avaí. Logo que me mudei pra lá, faziam 30 anos que ele estava na série B do catarinense e era uma situação constrangedora paras os torcedores. Mesmo assim tinha vizinhos que todo o final de semana colocavam o hino, asteavam uma bandeira gigante e tudo aquilo virava uma espécie de reverência. Eu ficava pensando se eles sabiam porque torciam pro Avaí. Eu sabia: me apaixonei pelo time há 30 anos na série B. E hoje quando jogam Grêmio e Avaí eu me divido. Costumo dizer: Tô torcendo pro Grêmio, mas acho que o Avaí vai ganhar. O Grêmio é por influência, coisa de sangue, de família. O Avaí é paixão nova, diferente. O caso é que você já tem uma camiseta do Grêmio Joãozinho, e duvido que teu pai deixe você se apaixonar por um time. Vai ser gremista por influência, por sangue. Mas quero que tu saiba minha opinião: Você escolhe filho! Se escolher Grêmio eu assisto os jogos contigo, te compro camiseta, uniforme oficial, uma chuteira, bola, faço pipoca na hora dos jogos e até te levo pro estádio um dia. Se escolher ser do Inter ou qualquer outro, a hora do jogo vai ser hora de fazer o dever de casa. Nada de camisetas, porque na nossa casa o sangue é azul. Você escolhe filho! :D

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Me curei.

Eu só vou me curar depois que te falar toda a verdade meu pequeninho. Porque parece uma doença, daquelas que te deixam de cama por dias e dias e não te deixam ver o sol que continua brilhando lá fora. Eu falei em um texto mais antigo que eu tinha nascido por engano ou que alguém tinha me empurrado lá do céu. Sabe, acho que você também. Isso não é uma coisa ruim meu amor, os anjinhos que chutam os bebês lá do céu e mandam aqui pra terra sabem o que fazem, eles só estão obedecendo Deus. Eu vou te ensinar a obedecer Deus também, acho que vai ser a parte mais difícil, porque eu desobedeço ele todos os dias. Queria que você conhecesse tanta coisa além da placenta, do líquido amniótico e do cordão umbilical. Ás vezes eu tenho medo das pessoas, se você conhecesse algumas, você também teria. Em oposição, existem outras pra compensar, que ao contrário do medo, te dão força! Essas eu quero que tu conheça. Elas são como a placenta e o cordão umbilical: te protegem e te dão nutrientes pra enfrentar as batalhas que Deus quer que a gente vença. A vida é bem boba ás vezes. Mas a mamãe vai te dar a mão e vai errar com você quantas vezes for preciso e a gente vai levantar e continuar andando. E se o tombo for muito grande, a gente tem o papai. Por isso você vai nascer com duas mãozinhas: uma pra cada um. Eu sei que você pode ouvir tudo aqui de dentro, vai nascer sabendo anatomia e bioquimica né? A mamãe tá estudando e vai ser médica. Você pode ser o que quiser sabe, até astronauta. Eu já quis ser astronauta, mas desisti. Eu vou te ensinar a desistir também. É tão importante quanto continuar tentando. A gente vai ser muito feliz, eu te prometo. Vou te ensinar a ler logo, assim você saberá que mesmo sendo empurrado lá do céu, tinham 4 mãos pra te pegarem aqui embaixo. Boa noite meu anjinho, eu te amo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Saudade

Eu vou falir meu pai em passagens de ônibus, vou ter problema de circulação nas pernas por passar tanto tempo sentada na mesma posição, vou engordar 20 kg por comer tanta porcaria nas viagens e vou enlouquecer se mais alguém que por acaso sentar ao meu lado, resolver me contar a sua vida inteira. Mas eu juro que prefiro passar por tudo isso, do que sentir saudade. Vou confessar, claro que eu sinto saudade dos meus pais, da minha irmã e das minhas amigas. Porém essa é uma saudade suportável, eu aguentaria numa boa. A saudade insuportável é a saudade de quem se ama. Porque você não pode perguntar o que ele comeu de café da manhã, se resolveu tomar leite como você recomendou, se adquiriu uma nova marca roxa resultado do futebol, se assistiu Todo mundo odeia o Cris... No fundo você sabe que vai chegar o final do dia e ele não vai bater na porta tapando o olho mágico com o dedo, fingindo que você não sabe quem é. E o dia vai acabar, parecendo que nem começou, porque se ele não vem é como se as coisas não tivessem acontecido.
Eu posso demorar três meses pra voltar pra casa que eu sei que meu pai vai continuar ligando a tv durante o almoço, minha mãe desligando logo em seguida e minha irmã não querendo comer carne por dó dos 'amiguinhos'. Eles vão estar ali, podem cortar o cabelo, ter engordado uns quilinhos, pintado o cabelo de uma cor diferente, mas vão me abraçar quando eu chegar, a mãe vai fazer um jantar delicioso, o pai vai me buscar na rodoviária e minha irmã vai reclamar: Hum, sei porque tem janta boa hoje, a 'querida' veio.
As amigas podem mudar, podem arrumar outros amigos, outros amores, outras histórias, mas aquelas que a gente viveu juntas vão ser sempre as mesmas, não tem como mudar e só lembrá-las para o sentimento voltar a ser mesmo. A amizade tem dessas coisas, o passado faz com que ela nunca mude, permaneça intacta, permanente, estável.
Já o amor... É como deixar um carro na rua por 3 meses, abandonado. Ele pode ter alarme, sistema de trava elétrica, blindagem... Mas você não sabe se alguém o riscou enquanto passava do seu lado, se furou um pneu, se os passarinhos o sujaram durante a noite, se outro carro resolveu ocupar o mesmo espaço e já não existe para choque, ou pior, se alguém conseguiu roubar, mesmo você tendo investido tanto em segurança. O amor é instável, inseguro, imaturo, inconsequente. É por isso que é essa a saudade mais insuportável de todas, por medo que ela não seja recíproca. Por medo de ele ter mudado o cabelo e alguém a mais ter reparado, por medo de ele conhecer pessoas novas e você não parecer tão legal assim perto dos outros, por medo de ele deitar na cama a noite e o seu último pensamento ser: "Droga, amanhã tenho que trabalhar cedo"! Saudade se tem de quem já se conquistou por inteiro, de quem não precisa de alarme, blindagem e travas de segurança. Dor de saudade se sente por quem se ama e está longe. Mesmo por telefone ou internet, ainda falta o mais importante: olhar nos olhos e ver que não tem nenhum risquinho a mais na retina, que as marcas roxas já sumiram do último futebol, que o cabelo continua fofinho, e o mais importante, ninguém conseguiu levá-lo embora.
Eu posso viajar um dia todo, aguento as velhinhas contando a sua vida, o formigamento da perna e meu pai pedindo se tem cara de banco, mas do meu carro eu cuido bem e essa tal dor, já não sinto mais.

Do que você precisa para ser feliz?

Quando eu tinha uns 8 anos, 1 milhão de reais era muito dinheiro. Eu ficava imaginando o que faria se tivesse tudo isso e por mais que comprasse tudo que a minha imaginação permitia, o dinheiro nunca acabava. Esses dias, quando a Mega sena estava acumulada em 90 e alguns milhões eu falei: nossa, eu nem saberia o que fazer com tanto dinheiro, queria só 1 milhão. Mas meu pai me lembrou que eu não tinha mais oito anos, com a frase: Se você comprar uma casa legal, se foi o teu 1 milhão...
Foi aí que eu me dei conta que 1 milhão não é nada! Quer ver como eu gasto rapidinho? Começando pelos estudos: com 260 mil eu acho que me formo, 50 mil de um carro, uns 400 mil de uma casa com piscina e escada interna, 10 mil pra criar um filho até os 10 anos (se for menino), 200 mil pra comprar uma fazenda, 60 mil pra manter tudo isso anualmente. Fechou! E ainda me faltaram 30 reais pra comprar um cone. Mas pensando bem, sabe do que eu preciso pra ser feliz? De um copo de leite com nescau, 6 horas diretas de Dr. House, pra poder passar o resto do dia hiperativa e incoerente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

E aí Deus, valeu pelo dia de hoje!

    Ontem eu estava muito mal. Sabe quando você acha que tem o maior problema do mundo¿ É. Mas esse problema não é só meu então, me sinto na obrigação de consolar a outra pessoa envolvida: “As coisas nunca são tão ruins quanto parecem, o fato é que elas assustam no começo.” E como assustam...

    Fui dormir pensando nisso e me deu vontade de rezar, coisa que admito, raramente faço (espero que minha mãe não leia isso). Não é falta de fé, preguiça ou descaso, é simplesmente costume. Penso que sentir compaixão por alguém, fazer uma boa ação ou aceitar a si mesmo é tão bom quanto dizer: e aí Deus, valeu pelo dia de hoje! Para mim a primeira opção é mais proveitosa, mais fácil, mais sincera.
    Só sei que antes de encostar as pálpebras, me imaginei em um lugar lindo, era uma praia, eu estava sozinha e uma luz me engolia e tirava tudo que estava me incomodando. Nessa hora a porta do banheiro bateu com muita força e me desconcentrou. Os problemas voltaram e Deus ficou pra lá. Acordei tarde, pois não tinha aula de manhã. Acordei assustada com a ventania que fazia lá fora. Sinceramente nunca tinha visto um vento tão forte. Liguei a TV: Ventos extramente fortes atingem a capital do estado e região, soprando de oeste para noroeste. As portas batiam, as arvores balançavam seus galhos, derrubavam suas folhas. Os papéis que estavam no chão voavam para longe, uma cena deprimente. Pensei comigo mesma: Mas que droga de vento! Meu cabelo vai ficar uma droga, tenho que levar os livros na biblioteca ainda e depois ir pra aula. Que inferno!
    Almocei e fui pra aula. Realmente meu cabelo ficou uma droga! Aula de bioquímica, café, aula de bioquímica. Quando a aula acabou, me separei das minha colegas pois precisava passar no banco. Na volta pra casa, o vento parecia ainda mais forte, mas ao contrário da ida pra faculdade, agora ele soprava contra mim, me fazendo diminuir os passos, jogando meu cabelo para trás, trazendo as folhas amareladas das arvores pra perto de mim. E inacreditavelmente me senti bem. Como se o vento estivesse carregando todos os problemas pra longe. Devo ter sorrido nessa hora, porque uma guria passou por mim e sorriu também.
    “As coisas nunca são tão ruins quanto parecem, o fato é que elas assustam no começo.” Se o vento sopra bagunçando seus cabelos, se ele te incomoda fazendo você engolir poeira e assusta com aquele barulho de chicote no ar, mude a SUA direção, faça com que ele jogue teus cabelos pra trás, te faça andar mais devagar pra poder perceber que por pior que seja teu problema, sempre existe um jeito de usa-lo a seu favor.

O que eu vou dizer hoje, antes de dormir¿ “E aí Deus, valeu pelo dia de hoje!”

Simples como qualquer palavra

Palavra, tenho que escolher a mais bonita

Para poder dizer coisas do coração

Dar a letra de quem lê

Toda palavra escrita ou rabiscada

No joelho, guardanapo ou chão

Ponto pula linha travessão

E a palavra vem

Pequena, querendo se esconder no silêncio

Querendo se fazer de oração

Baixinha como a altura da intenção e na insegurança

Vírgula, parênteses, exclamação

Ponto pula linha travessão

E a palavra vem ...



Vem sozinha

Que a minha frase invento pra te convencer

Vem sozinha ...

Se o texto é curto aumento pra te convencer

Palavra, simples como qualquer palavra

Como qualquer palavra

(OTM)

domingo, 12 de setembro de 2010

Eu não sei se era pra eu ter nascido. Imagino que alguém tenha me empurrado ou eu tropecei e nasci por engano. Parecia um bebê saudável, mas fui crescendo e acho que meus pais pensaram que eu não ia me criar. Sempre fui muito magrinha, tinha medo de tudo que fizesse barulho, não falava muito, mas tinha saúde, era o que importava. Quando eu tinha 2 anos, um primo meu, com o qual eu brincava, morreu com um choque. Mas eu continuava brincando com ele, falando com ele, o que preocupava muito a minha mãe e fez com que a visita de um padre fosse constante lá em casa. Acho que isso fez com que minha sensibilidade em relação às almas do outro mundo fosse parcialmente esquecida. Nasci no interior, brinquei com barro, subi em arvores, mas nunca tive muitos amigos, talvez por ser uma criança sincera demais. Minha mãe conta que fomos visitar uma amiga dela e a filha me deu um ursinho para brincar. Eu recusei dizendo: Não quelo mãe, ta sujo! Minha mãe perdeu amigas por minha causa. Prestava muita atenção na conversa dos adultos e uma vez ouvi a minha mãe falar que a afilhada dela era uma vespa de tão brava. Justo em um dia que a tal afilhada veio visitar a minha mãe, eu comia uma bolacha sentada no chão e uma vespa pousou nela. Corri gritando pra minha mãe: Mãaaaae, olha só, a tua afilhada ta na minha bolacha! É, eu era bem espertinha. Nos mudamos pra cidade quando eu tinha 6 anos. Eu não ia no mercado sozinha, não tinha amigos, não falava com ninguém. Na verdade eu tinha medo das pessoas e quanto mais cresço, mais sei que eu tinha razão. O fato é que eu sempre preferi os mais quietos, os tímidos como eu. Quanto menos as pessoas falam, mais elas pensam. Só que assim, ninguém falava e eu continuava só pensando. Adorava ouvir as conversas dos adultos, eram bestas e até hoje eu morro de medo de falar uma coisa adulta demais. É preciso ser idiota pra ser feliz, fazer coisas idiotas, errar. Meu quarto era gigantesco, mesmo eu dividindo-o com minha irmã, e ainda com o guarda-roupa da empregada. Hoje tenho um quarto só pra mim e ele parece minúsculo. Mas na verdade sei que fui eu quem cresci. Quando somos crianças achamos que o mundo é gigante. Hoje eu sei que ele é menor que o meu cérebro. Desde a primeira série tirei notas boas na escola, era a melhor aluna, sentava na frente. Sonhava em mudar o mundo e a profissão que mais se encaixava nesse sonho era a medicina. Hoje no 1º semestre da faculdade eu vejo que não vou poder mudar nada. Meu professor falou: Primeiro vocês vão estudar no modelo anatômico, depois no cadáver, depois no pobre e aí sim vão poder curar o rico. Foi um balde de água fria na minha cabeça. E eu sei que eu posso ajudar, atender de graça, fazer um projeto social, mas também sei que eu não vou fazer nada disso. Muito trabalho, pouco dinheiro. A vida custa mais caro que uma mansão na praia, um iate e um cavalo na fazenda. E eu estou aprendendo aos poucos que não se pode mudar o mundo, ele te muda antes. Já devorei todos os livros que tem lá em casa. Desde O pequeno príncipe até aquelas revistas Pequenas empresas, grandes negócios. Lembro que minhas amigas passavam lá em casa no domingo a tarde: Gabi, vamos sair? E eu: Não posso, to lendo! Minha mãe pensava que eu não ía dar trabalho. Quietinha, gostava de ler, não precisa mandar estudar e nem deixar de castigo por ter saído escondido. Ah mãe, filhos vem ao mundo pra dar trabalho, inclusive os que vêm por engano. Eu prometo que não vou ser presa, mas o resto... Vou ver até quando consigo me manter viva nesse mundo que não era pra ser meu.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

E se formos só crianças?

Há dias ando pensando nas mudanças que aconteceram em mim em um intervalo de tempo muito curto. Tão curto que não consigo assimilar. E assim vivo como se não vivesse, coloquei no piloto automático e sigo em frente. São mudanças internas, essas são as piores, porque no fundo você quer que as pessoas percebam, mas nesse mundo tão desligado da alma, não há quem perceba. Certo dia, liguei a tv e passava uma novelinha de espíritos. Ah! Essa promiscuidade com as almas do outro mundo, como se existissem almas neste... Eu me daria melhor no outro mundo. E quando você consegue tudo que pensava que queria, já não é o que te faz feliz. A felicidade é um estado transitório. É uma alma habitando seu corpo temporariamente. E quando ela vai embora, então... Já não sei viver e só. Há alguém com medo dentro de mim. E o medo se transforma em lágrimas quase sempre. Deixei de acreditar na vida quando estudei que as lágrimas fazem parte do nosso sistema de defesa. Liberam hormônios e depois do pranto a sensação de leveza. A ciência acaba comigo, dissolve o resto da fé que ainda existia aqui dentro. Preciso que alguém perceba o que mudou em mim, porque eu não consigo falar. E se eu ainda não cresci o suficiente? E se todos formos ainda crianças? E se o medo for meu? Medo de mim mesma.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Autobiografia em 5 capítulos.

1) Ando pela rua. Há um buraco fundo na calçada. Eu caio. Estou perdida, sem esperança. Não é culpa minha. Levo muito tempo para encontrar a saída.

2) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Finjo não vê-lo. Caio nele de novo. Não posso acreditar que estou no mesmo lugar. Mas não é culpa minha. Ainda assim, levo um tempão para sair.

3) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Vejo que ele está ali. Mesmo assim caio, é um hábito. Meuz olhos se abrem. Sei onde estou, é culpa minha. Saio imediatamente.

4) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Dou a volta.

5) Ando por outra rua.

Estou andando por outra rua. A rua que eu queria, a paisagem que eu sonhei ver um dia. Talvez eu demore a cair em outro buraco, talvez caia amanhã. Mas eu venho aqui contar. PAAAASSEI, MEDICINA!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo.

Eu queria ser metade do inteiro que eu sinto. Eu queria ter metade da coragem que eu incentivo. Eu queria ter metade da paciência que me falta. Eu queria ser metade de tudo o que eu fujo. Hoje me procurei no dicionário e não me encontrei. Ouvi falar que lá existiam definições pra tudo. Eu não sei na verdade quem eu sou. Como vou me encontrar? Vou procurar o quê? Pensei em me definir por cores. Roxo, sempre gostei de roxo. Significa energia, mas pensando bem, eu ando tão cansada ultimamente. Cansada de mim mesma. Roxo não me define. Vermelho, paixão. Mas alguns dos mais apaixonantes sonhos eu tenho pensado em deixar pra trás. Azul, calma. Nem pensar, eu sou uma panela de pressão com válvula de escape quebrada. Verde, esperança. Eu penso em desistir todos os dias. Preto é a absorção de todas as cores. Em compensação não reflete nenhuma. Branco é ao contrário, reflete todas, mas é vazia. Não absorve nada. Eu sou da cor, do tom, sabor e som que quiser dançar. Um arco-íris por dentro e por fora. As nuvens me cobrem, mas depois da chuva eu sempre apareço, brilhando com o sol. Perdi o medo de desistir. Só não perdi o medo de me definir. Mas sei que dicionário nenhum tem o que preciso. Encontrei na rua, hoje de manhã, um recolhedor de lixo, cantando. Ele foi a pessoa que mais me fez feliz até hoje, porque não fez nada. Já bastam as penas que eu mesma sinto de mim. Só preciso de alguém que cante, sem esperar ouvir o refrão.
                                         Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Falta tanta coisa na minha janela
Como uma praia
Falta tanta coisa na memória
Como o rosto dele
Falta tanto tempo no relógio
Quanto uma semana
Sobra tanta falta de paciência
Que me desespero
Sobram tantas meias-verdades
Que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos
Que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço
Dentro do abraço
Falta tanta coisa pra dizer
Que nunca consigo.                                                         Quem souber, me salve.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Conversa comigo mesma.

- Eu sinto que tudo vai dar errado, outra vez.
- Como você quer que as coisas deem certo se pensa tão negativo?
- Mas eu sinto! É como se o mundo girasse ao contrário pra mim.
- Não gira, o mundo conspira a nosso favor quando sonhamos.
- Eu não teria tanta certeza.
- Eu sou tão cheia de sonhos, espectativas, criatividade... não posso perder o que tem guardado aqui dentro.
- Eu sou vazia.
- Mas como? Nós somos a mesma pessoa.
- Paradoxo. Nada nos separa.
- Eu juro que não te conheço. Ou seria não me conheço? Será que eu posso parar de me deixar confusa?
- Desculpa.
- Está desculpada. Não consigo brigar comigo mesma.

sábado, 12 de junho de 2010

Você tem coragem?

Em umas das prováveis e já esperadas propostas de redação que recebi este mês, uma delas era sobre jovens. Um texto logo no começo da folha falava da mudança dos jovens atuais. "Antigamente tinha-se ideologias, os jovens lutavam pelos seus sonhos, íam à rua em protestos e passeatas. O que vemos hoje? Jovens acomodados na frente do computador, se drogando nas esquinas. Para onde foram os protestos?'' Eu tive vontade de rasgar a folha, picar em pedacinhos, lentamente. Sair na rua, tirar a roupa, destruir um carro e gritar: NÃAAAO! VOCÊS NÃO SABEM DE NADA! Mas eu não fiz. Eu tenho mais de 18 e a minha mãe não iria gostar de ter uma filha presa. Eu escrevi. Escrevi o que eu não acho. Tirei uma boa nota. Mas eu preciso falar o que eu realmente penso. Não consigo me enganar desse jeito. Antes uma pergunta: os protestos deram certo? A ditadura acabou. Mas o que é melhor: uma ditadura ou uma democracia corrupta e ineficiente? Eu tenho lá minhas dúvidas. Uma colega falou que não tinhámos mais pelo que lutar. Ridículo. Talvez tenhamos até mais. Mas nossa forma de luta é perspicaz, eficiente, imperceptpivel. Silêncio. Existe melhor forma de protesto? A ditadura nos limita, a democracia nos liberta com pancadas. Qual a diferença? Os jovens cansaram. Mas continuam lutando dentro de suas mentes. Misturando seus próprios problemas com os problemas do mundo. Em silêncio. O grande problema é o que os adultos se esquecem de como é ser jovem. "No meu tempo não era assim." Claro que era assim. Os tempos não mudam. Mudam-se os métodos. Métodos de viver, de lutar. E nós talvez tenhámos descoberto o melhor deles. Tão bom que passa despercebido a qualquer professor de redação ou pai de família. O mundo será melhor quando as pessoas tiverem a coragem de ser jovens pela vida toda.

Eu veria o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=4L_DQKCDgeM

Já que é dia dos namorados: Eu descobri que as paredes da casa de Deus são azuis e que não há no mundo sensação melhor do que você e eu. ♥

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tenho uns sonhos tão reais, que não conto de propósito.
http://www.youtube.com/watch?v=Zr_MJAOyOeU
Morre menos quem preserva-se mais. Vive mais quem arrisca-se o tempo todo.

Procura-se.


Algumas pessoas pertencem a nós por pouco tempo. Reformulando: Algumas pessoas convivem conosco por pouco tempo. Afinal, nem eu mesmo me pertenço. O fato é que algumas pessoas fizeram parte da minha vida e sumiram. E eu queria muito saber o que aconteceu com elas. Se morreram, casaram, ficaram ricas ou se mudaram pra França. Eu tinha uns oito anos quando minha mãe trocava de empregada a cada mês. Nenhuma servia. Em umas dessas trocas, apareceu uma mulher loira, alta, com unhas vermelhas e muito bem vestida. Eu juro que não lembro o nome dela. Só lembro que ela fazia doces maravilhosos e que não saía na rua sem salto. Minha mãe não perdeu o costume e ela durou um mês lá em casa. Gostaria de saber se ela continua pintando as unhas de vermelho, se abriu uma confeitaria ou se num tombo de salto alto quebrou a perna. Eu estava na sexta série, eu acho, quando um menino se mudou pra minha cidade. Ele se chamava Paulo e tinha uma onda gigante no cabelo. Isso lhe rendeu o apelido de Paulo da onda. Ele era inteligente e esforçado. Ficamos amigos, mas ele foi embora pouco tempo depois. Queria saber se ele está trabalhando na Nasa, se conseguiu tirar a onda do cabelo ou se assumiu a identidade e pra disfarçar, virou surfista. Há alguns anos atrás um cara tentou assaltar a nossa casa. Ele tinha uma faca e um saco na mão pra por os pertences roubados. Meu pai ouviu barulhos estranhos e chamou a polícia. De tão burro o ladrão tropeçou em um corrente que tinha no chão e a polícia chegou a tempo. Ele disse que só queria um pedaço de pão. A polícia disse que não precisava de uma faca pra pedir pão. E ele: Mas e como que eu vou cortar depois? haha! Queria saber se ele virou padeiro, se foi preso ou se conseguiu emprego em um circo. Eu poderia citar 100 pessoas aqui. Mas seria um texto chato e desinteressante até pra mim. O fato é que aprender a lidar com perdas é essencial. Se deixarmos abrir um buraco em nossos corações cada vez que algo ou alguém resolve sumir, quando um novo jato de novidade chega em nós, escorre pelos buracos perfurados pelo tempo. Meu coração anda uma peneira. Eu me perco de mim mesma todos os dias. E quando acho que me encontrei, não me conheço mais. Tem uma propaganda que anda passando na tv, de margarina Becel: ''Se você pudesse enxergar seu coração, não cuidaria melhor dele?'' Nas imagens aparecem pessoas andando com seus respectivos corações nas mãos. Eu agradeço a Deus por ter posto o coração em um lugar seguro e inatíngivel por meras mãos leigas. O meu já teria sido perdido a tempos, ou quebrado, ou fugido. Quanto ao coração estilo peneira: nada que uma fita durex, uma super bonder e uma dose de realidade não curem. Quem me encontrar, por favor, devolva-me.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cegueira.

Hoje de manhã eu estava fazendo uns exercícios de português. Em uma das questões tinha um textinho e depois umas frases sobre advérbios, acentuação e oração subordinada adverbial. Aqueles conteúdos que fazem você pensar: afinal, para que estou vivendo? O caso é que o texto me chamou a atenção. Era de três cegos e um elefante na frente deles. E eles queriam descobrir o que era que estava atrapalhando os seus caminhos. Então o primeiro cego apalpou o rabo do elefante e disse: é uma corda. O segundo cego apalpou o corpo do elefante e raciocinou: é um muro. O terceiro acariciou a pata do elefante e concluiu: é uma coluna. Assim acabava o texto. Nada de moral, nada de frases de final de fábula. O fato é que o exercicío não se importava com a moral da história e sim com a sintaxe. Mas eu preferi assim. Desse jeito posso tirar minhas próprias conclusões. Estamos cegos de nós, cegos do mundo. Desde que nascemos somos treinados para não ver mais que pedacinhos. A cultira dominante, cultura de desvínculos, quebra a história passada como quebra a realidade presente. Proíbem-nos de montar o quebra-cabeça da vida. Afinal, cordas podem ser cortadas, muros podem ser pulados e colunas podem ser contornadas. Elefantes podem te matar com suas toneladas. Se você não monta o quebra-cabeça, a vida te transforma em peça.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Eu desistiA.

Eu desisti de ser astronauta quando tinha 5 anos. Na verdade o que eu queria era ser fogueteira (andar em foguetes, engraçadinho), mas minha mãe me disse que essa profissão não existia. Eu desisti. Desisti de escrever um diário quando tinha 14 anos. Eu escondia, mas minha irmã sabia aonde ele estava. Pra que ter um diário se as pessoas liam ele? Eu desisti. Desisti de dormir de pijama comprido com 17 anos. Cada vez que eu tentava usá-lo, acordava sem nada. Eu não consigo, eu não gosto, pode nevar! Eu desisti. Eu desisti de TENTAR entender as religiões o ano passado, quando tive duas semanas de frustradas aulas de filosofia. Eu não dormia a noite de tanto pensar. Eu desisti. Desisti de tentar imaginar um amigo imaginário aos 9 anos. Parece loucura, mas eu sempre quis ter um. Mas eles duravam no máximo 2 horas, até os reais chegarem. Eu desisti. Eu desisti de TENTAR gostar daquilo que os outros gostam com 15 anos. Eu não gosto de sertanejo universitário, de festas de madrugada com luzes coloridas e nem de beber e depois vomitar. Resolvi assumir minha identidade de estranha. Eu desisti. Mas agora eu não consigo desistir. Por mais que no fundo uma voz me diga que é o melhor caminho. ''Você já desistiu de tantas coisas, é só mais uma.'' Eu tenho medo de desistir. Talvez porque seja mais cômodo continuar tentando. Mais apropriado. Eu já me acostumei a não desistir. Isso é um perigo, tal como não conseguir tentar. Extremos. Minha mãe fala sempre essa frase: ''Os dois estremos são perigosos.'' Eu sou um extremo. Eu vou rir com a minha frase agora. É do tipo frase de vó: ''Há coisas que só se aprendem com a idade.'' Eu aprendi. Quanto mais a gente cresce, menos corajosos ficamos. Eu deveria ter sido fogueteira.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Avesso.

Viaje antes de me conhecer. Perca-se, erre, traia, faça maldades, fume e beba. Só depois de ter uma bagagem de erros se apresente. Eu acordo de mau-humor, mas um beijo no rosto resolve tudo. No rosto. Eu preciso escovar os dentes antes. eu não tenho fome no café da manhã, mas minha alma tem. Cante. Sim, eu e minha alma somos duas peças separadas, unidas por um fio ínfimo. Eu arrebento se você quiser e você escolhe com qual quer ficar. Não fale mal da TV, nem do Domingão do Faustão, nem do Fantástico, mas não assista, por favor. No domingo a gente pode ver um filme, fazer uma pipoca e trocar aqueles quadros da sala que eram da minha vó. Eu gosto de beijo no pescoço, mas não mexa no meu cabelo, assim como minha alma, ele tem vida própria. Você pode se vestir mal, eu gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, de pernas, de bocas. Se eu pedir pra ficar, fique. Se eu pedir pra sair, fique. Se eu chorar, fique. Chame-me de boba. Eu gosto de palavras que rimam com boba. Loba. Eu tenho um gosto musical estranho, não queira gostar, eu aprendi a ouvir música sozinha. Goste de boa comida, de bom vinho, chocolate meio amargo e música lenta. Sabia que é impossível sussurrar só? Eu gosto de sussurrar. Mas preciso de alguém pra tentar ouvir. Gosto de matemática, você pode gostar de gramática, tudo bem. Minha fé é solúvel, igual nescafé. Não queira por mais água nela, coloque açúcar. Eu gosto de silêncio. De duas pessoas no máximo. Multidões me dão calafrios. Eu gosto de sol. Gosto de pessoas quentes. Entenda: mão quente, pé quente, alma quante. Eu não gosto de surpresas. Leia. Tome suco de limão. Faça exercícios físicos, por mim inclusive. Eu não faço. Use EU antes de verbos e não MIM. Eu não sei por que isso me irrita tanto. Eu gosto de vento. Nada de casacos nas costas, nada. Flores, amores, perfumes, um presentinho aqui e ali. Eu grito por liberdade, mas ás vezes você pode fechar a porta. Eu vou querer saber toda a verdade, mas não me machuque. Não tenha medo da morte. Sabia que é ela que move o ser humano? A vida acaba, a morte começa. Não acredite só quando eu juro. Acredite sempre. Não lamente. Alimente-me. Goste de fazer amor, eu disse amor. Eu quero filhos. Quero quadros na sala e um mapa mundi na parede do meu quarto. Escolha onde jantar, escolha aonde vamos no domingo a tarde, escolha a decoração da sala. Não corte os cabelos. talvez essa seja a frase mais importante. Cabelos. Não precisa gastar comigo, sou barata. Seja diferente. Goste de móveis rústicos. Eu nçao brigo sabia? Perdoo fácil, mas não esqueço. Nunca esqueço. Nunca mudo. Nunca desisto. É preciso mais coragem para desistir do que para continuar tentando. Eu não sou uma pessoa corajosa. mas você deve ser, se tiver coragem de entrar. Traga sua mala. Sem mala não entra. Sem paz não entra, sem luz não entra, sem cor não entra. Faça-me sentir saudades, mas não muito. Eu posso acostumar. Se entrar, não se sinta em casa. Não é uma sala de estar, é um coração. Cheio de almas, cheio de eus, cheio de cabelos. Me dê um mundo gigantesco e faça-o caber dentro de mim.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A sede que causei me afogará.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Se tudo está perdido, eu venho oferecer meu coração.

Quem disse que tudo está perdido? Quem disse que queremos salvar a natureza? Não queremos. Queremos nos salvar. Aliás, a natureza não liga para nós. Afinal, quantas espécies já foram extintas? Por quantas eras glaciais já passamos? Quantos derrames de lava já destruíram o que havia na frente? A natureza não se preocupa com você e nem você com ela, não se iluda! Você está querendo salvar-se, só isso. Deixemos de ser hipócritas.
Ontem eu fui almoçar na casa de uma amigo da minha mãe. Aliás eu já falei dele aqui. Ele sempre me faz pensar, mesmo que eu não concorde com uma palavra do que ele diz. Ontem ele falou que tudo estava perdido. Eu não acho. O que falta é sensibilidade. Eu tenho de sobra e ensino como adquirir. Todo mundo sempre reclamou dos meus gostos musicais, mas eu não tenho culpa. Eu sou sinestesica. Pra quem não sabe, sinestesia é uma mistura de sentidos. Então gostar ou não de uma música não depende apenas do minha audição, também do meu paladar. Sertanejo e pagode tem gosto amargo. Eu até gostaria de sertanejo, se não fosse uma bando de topetes loiros com um pandeiro na mão. Sinceramente, eu não gosto de pandeiros, eu gosto de piano. E eu não estou falando que a salvação do mundo está em ouvir Fito Paez e Beirut, não. Queria eu gostar de sertanejo e poder ir no show do Luan Santana com meu namorado sem vomitar. O que falta no mundo é a mistura de sentidos. Ouvir as cores, sentir a música, engolir as palavras. O mundo não está perdido, apenas escondido. Pra quem discorda, eu empresto meu coração, como um documento inalterado, unindo as pontas de todos os sentidos em um mesmo lugar. Se tudo está perdido, eu venho oferecer meu coração.

domingo, 11 de abril de 2010

...

Fazem dois meses que meu marido sumiu. Foi comprar cigarros e não voltou mais. Meu filho acorda toda noite, chamando pelo pai. Éramos felizes. Ele não pode ter nos abandonado, não pode.

Minha irmã morreu de acidente de carro. Era estudante de medicina, terceiro semestre. Sempre foi responsável e dedicada. Um sujeito fdp estava alcoolizado e bateu no carro dela. Não aconteceu nada com ele, já com a minha irmã... Desculpe, não quero mais falar.

Minha casa foi destruída. Eu tinha uma boneca de cabelos ruivos e não deu tempo de salvá-la. Meu pai disse que a minha mãe também ficou lá, cuidando da boneca. Pelo menos a minha mãe não está sozinha. Meu pai disse que ela não vai mais voltar. Eu não gosto quando chove. Tenho medo de perder meu pai também.

Meu pai morreu de câncer. Eu não sei o que é isso. Só sei que faz a gen te chorar a noite, de saudade.

Minha filha foi assassinada na saída da faculdade. O assassino está preso. Mas isso é pouco. Minha filha não está mais aqui. Não é a vida que é cruel, são os homens.

Ouvi barulhos na rua. eram umas nove horas. Passos apressados, gritos de criança, tiros de escolpeta, batidas de carro, pratos quabrados na casa vizinha. A chuva não para. Uma mulher grita e uma mão fria abafa o grito. Outro tiro.
Estava passando a novela e eu nem saí para ver o que estava acontecendo.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Vou subir a montanha de pés descalços.

''A vida inteira pra me achar, só pra me perder no fim. Quem me encontrar, por favor, devolva-me.''
Ontem programei meu dia pela primeira vez nessas férias. Talvez porque pela primeira vez tivesse algo pra fazer. Fui ao banco, à  locadora, à cotureira, revelei fotos e voltei pra casa meio-dia para fazer o almoço. Assisti à um filme e me vesti para ir à piscina. Mas estava perfeito demais e acabei descobrindo que a piscina estava fechada. Sem mais opções fui à casa de uma amiga da minha mãe. Sentei na grama, tomei chimarrão, comi pipoca. Depois de algum tempo apareceu o marido dela, me olhou e disse: Gabi, aproveite a tua idade, a beleza da juventude e essa mania de achar que tudo na vida é fácil (não sei porque, mas acho que ele me ouviu tentando convencer a minha mãe a passar uns dias em Floripa). Sabe - continuou ele - a gente evolui até certa idade, depois, tudo começa a decair. E eu não estou falando fisicamente, acredite, isso é o de menos. O pior de tudo são as perdas. Cada perda deixa um buraco aqui dentro, no final da vida morremos ocos. Tentei descontrair dizendo que devemos levantar a cabeça e não se deixar abater pelos problemas da vida, ma o fato é que ele me deixou pensativa. Agradeci pela piscina estar fechada: penso, logo existo.
Conhecem aquela frase: Envelhecer é como escalar uma montanha, podemos estar cansados, mas a vista é cada vez mais linda. Depois dessa conversa, fiquei na dúvida. Não deve ser bonita para todos. Essa tal vista deve ser como olhar para o passado. É claro que a maioria vai olhar para trás e ver os filhos criados, os objetivos conquistados. Mas meu medo é olhar para trás e ver a vida vazia, sem sentido. E se quando chegar ao final surgir a pergunta: Era só isso?
Depois de um tempo chegou uma mulher e um menino. Ela não tinha dinheiro nem pra pagar um pacote de erva, estava fumando e reclamava que OS pais das crianças não pagavam a pensão. Fique imaginando qual seria a vista que essa mulher teria ao chegar no alto da montanha. Será que as perdas que o homem falou também nos deixam mais leves para subir a montanha mais rápido e tudo acabar de uma vez?
Se um dia eu sentir esse vazio, se as perdas começarem a chegar e tudo se dissolver por dentro, vou preencher-me com uma caixa absurdamente abarrotada de lembranças. Quero estar bem pesada para subir a montanha bem devagar e ter tempo para apreciar a vista. Vou de pés descalços para sentir cada pedrinha do caminho.
Obs: Texto encontrado em uma pasta qualquer num inspirador dia de férias, resolvi publicar!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pode ligar o motor pra eu dormir?

Quando nos mudamos para a minha atual casa, ela era cercado por dois terrenos baldios - um de cada lado. Um deles era coberto de ervas daninhas, mas as vezes meu pai passava um secante para que um atalho que levava a outra rua ficasse à vista dos passantes. Lembro de quando minha irmã caiu de bicicleta e da cicatriz que aquele atalho fez no seu joelho. Mas o outro lado é bem mais interessante. Era terra e era plano. Tempos depois resolveram construir e despejaram um monte de areia no meio do terreno. Não sei porque cargas d'água a construção demorou uns dois anos e o monte de areia continuou lá. Mas seja qual for o problema que o proprietário teve, não reclamaria se visse no que o monte de areia se transformou. Ganhei uma bicicleta em um Natal. Ela era maior que eu, e o monte de areia me ajudava a subir e a descer dela. Tinhamos vizinhos do outro lado do terreno. Um menino da minha idade e uma menina bem mais nova. O monte de areia se transformou em uma mistura de barro e água, que na nossa imaginação era uma linda praia. Escorregador, parque de diversões, túneis, cavernas. Uma vez meus pais saíram e eu, minha irmã e mais uma amiga fizemos uma guerra de mangueira com os vizinhos. Molhamos a casa toda. O menino atirava pedrinhas na minha janela e eu fingia que ficava braba. Um dia meu pai foi falar com o pai dele e ele nunca mais jogou as pedrinhas. O monte de areia era um motivo pra reconciliação que nunca tinha sido necessária. O monte de areia se transformou num supermercado e o menino morreu num acidente de carro. A menina cresceu e outro dia vi ela no circo, me disse um oi meio tímido - tenho certeza que ela ainda pensa no monte de areia, assim como eu. Demorei muito tempo pra dormir tranquila depois que o mercado foi construído. Os motores da camara fria fazem um barulho que só se percebe a noite, quando a escuridão engole a correrria da cidade. Ele funciona por 15 minutos e para por 5. Depois o ritual continua. Hoje eu me acostumei -  a gente se acostuma com tudo não é? Acostumei-me e passei a precisar dos seus sons para poder dormir. Depois de algum tempo é o silêncio quem tira o sono. Por que no silêncio, quando não há bichos do lado de fora, os que moram dentro começam a uivar. Assim concentro-me nos barulhos do motor, pra não lembrar da cantiga que as risadas do menino que morreu formavam atrás do monte de areia, mesmo que o barulho que mais queria ouvir seja o das pedrinhas na minha janela.

"E eu te deixo a própria sorte, o teu destino vai dizer o que é melhor, e agora perde a sua triste ilusão de achar que é tão ruim.''

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Eu durmo de janela aberta, será que Deus entra?

23h59min, meu quarto.


Está chovendo e o calor insuportável parece que deu uma amenizada. Minha janela está aberta e eu ouço o barulho da chuva lá fora. Momento bastante apropriado pra começar um assunto que sempre acaba em discussão – pelo menos comigo. Deus, religião, Igrejas, fé. Desde pequena me fazia perguntas a respeito desses assuntos e nunca obtive resposta. Minha família sempre foi católica, agora então nem se fala. Aos 13 anos eu tive uma crise de identidade cristã e só ia as missas por ordem da minha mãe.

Eu já fui a Centro Espírita, mas não obtive respostas lá, por mais que eu ache – pelo pouco que conheço – que é a mais lógica de todas ou pura invenção, eu não sei. Mas logo desisti dessa lógica. Recebi um convite pro CLJ, meus pais eram tios e por dois anos tudo ficou tão claro: Deus existe, ele morreu por nós, ele é bom e temos de agradecer, ele sabe o que faz, deixe sua vida na mão de Deus. Agora as dúvidas voltaram e eu juro que preferia continuar acreditando, mesmo que fosse pura ilusão. Tentei ler a Bíblia essas férias. Gênesis, Êxodo e pulei logo pro Apocalipse que li 3 páginas. Mas Deus parece tão perverso, matando os filhos primogênitos para castigar um povo, enviando pragas, inundando o mundo. Desculpem-me caros fiéis, se for pra eu acreditar em um Deus, que ele seja bom. Quero encontrá-lo vestindo um jeans desbotado, uma camiseta preta larga, all star, cabelos longos e sem pentear e que venha me receber dizendo: ‘’Toca aqui Gabizinha, pega um fone de ouvido aí e vem ouvir o que o Renato Russo compôs hoje!’’ Li em qualquer lugar por aí essa frase: Enquanto você inventar Deus ele não existe. E por acaso alguém já morreu e voltou pra contar o acerto de contas que teve com o Papai? Então quem é Deus senão uma invenção humana para se consolar e quando tudo estiver perdido, saber que alguém vai perdoa-lo ou castiga-lo lá em cima? Eu acredito em Deus, e por que eu acredito Ele existe, existe dentro de mim. Pode ser que eu esteja totalmente errada, que Deus me castigue mesmo por duvidar tanto da Sua divina bondade. Mas quem irá saber? Eu é que não vou voltar pra contar se ele usa jeans ou camisola branca. Por via das dúvidas, caso eu realmente esteja enganada... Pai Nosso, que estais nos céu, santificado seja o Vosso nome... ZzzzZ...



‘‘... não importa qual seja o poder de Deus, o primeiro aspecto de Deus jamais é o do Senhor absoluto, do Todo-Poderoso. É o do Deus que se coloca no nosso nível humano e se limita. ’’ Jacques Ellul, Anarchy and Christianity.

Uma indicação: Lucas 12, 49-53.

Se...

Tem coisas que acabam antes mesmo de acontecer. É o que poderia ser...Escrevo torto por linhas certas.

Retalho

- - - - diz: você me disse que sempre falava brincando.
- - - - diz: eu não to com senso de humor.
Gabi diz: então eu to falando sério que quero casar com você.

- - - - diz: então a gente vai se casaaar :D

Gabi diz: e eu vou tirar um print dessa conversa.

Ou a penúltima...

‘’Talvez eu seja a última romântica, nos mares desse oceano Atlântico... ’’




Um professor me perguntava todo dia: Já achou teu príncipe Gabi?

Eu olhava com uma cara assustada e respondia: Que príncipe? Eu nem quero um príncipe, tendo o cavalo já ta bom!

Depois de virar as costas pensava: OMG, como ele sabe que eu quero um príncipe?

Minha amiga dizia: É claro que ele sabe, dá pra ver nos seus olhos.

No final de uma aula, ele me chamou: Gabi, eu me preocupo com você. Eu era assim, sonhador. Acreditei realmente que tinha encontrado uma princesa, vivi anos acreditando nisso, mas como você sabe quanto mais alto se vai, maior é o tombo. Um dia você vai entender o que eu quero dizer, mas minha cara donzela, o cavalo não vai te fazer sofrer.

Eu passava noites pensando no que ele queria dizer e porque dizer isso justo pra mim. Entendi várias vezes seus pensamentos, mas eu logo dou um jeito de desentender e voltar a procurar. O Tombo? Aah! Vai que eu de sorte e caía em cima de um cavalo que tenha dono?


- Take my heart back.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Você decide

Tanto faz, qualquer coisa, por mim tudo bem, se você quiser iremos. INDECISÃO. Minha vida tem se encaixado perfeitamente nessa palavra. Eu não sei o que vou fazer, literalmente. Duas opções: faculdade ou cursinho. ''Você tem dúvidas?'' Claro que não, sei muito bem o que eu quero - se essa escolha dependesse de mim. Tudo bem, eu consigo me distrair e abstrair a angústia da minha mente e jogá-la por aí, em qualquer cantinho. Fácil, fácil. Mas tenho outro problema: o que fazer no final de semana? Carnaval chegou, infelizmente. ''O que você tem contra carnaval?'' Huuum... DSTs, incentivo ao sexo, acidentes de trânsito aumentando insuportavelmente, desfiles da escolas de samba na TV (vou vomitar). Eu estava sonhando com a frase: ''A gente vai no carnaval, você não tem escolha.'' Eu me conformaria numa boa o/. Mas a bendita decisão parece me perseguir. (Uma dúvida: eu tenho cara de mandona?) ''Você decide o que fazer no fim de semana.'' AAAAAAAAAAAAAAAAH! Você sabe a minha decisão. Vamos acordar cedo, pegar um carro, ir para um lugar tranquilo, esquecer que é carnaval. A gente pode acampar, mergulhar, conhecer pessoas vegetarianas que gostem de reggae, almoçar lasanha, comer sobremesa, ver um filme quando chover, acender uma fogueira quando anoitecer, pegar um violão e cantar sob um céu estrelado. Dormir na barraca só nós dois e voltar só quando essa droga de carnaval acabar. Mas eu sei qual vai ser minha resposta: A gente pode ir ao carnaval! ( Voz de Tessália, falso entusiasmo e afins.) Quem percebe afinal? Vamos pular carnaval e pode ser até que eu me divirta, dance, beije na boca, beba e venha aqui excluir esse texto, substituindo por: Carnaval é D+ galera! Porém minha decisão não é essa. E desde quando fazemos aquilo que temos vontede? Se fosse assim - OMG - eu estava presa há tempos, prisão perpétua, sem direito à visitas.



''E há quem se aliemnte de roubos, mas vou guardar o meu tesouro caso você esteja mentindo.''

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Desculpas esfarrapadas

Eu não passo por aqui há tempos. Dessa vez não é por falta de tempo, é por excesso. Portanto, desculpem-me queridos leitores imaginários e inexistentes. Eu funciono exatamente assim, sob pressão.
Voltei para fazer um comunicado que ando adiando o máximo que posso. Isso vai virar um espécie de diário, um desabafo constante. Não aconselho a leitura, é deprimente e sem graça. Na verdade eu sinto necessidade de escrever o que eu sinto. Aquela agenda cor de rosa não vem funcionando como eu havia suposto, então essa será a última tentativa. Minha mãe não vai acessar um blog *-* Já minha agenda anda perdida pela casa. É mais seguro aqui, mesmo exposta ao mundo todo. Aliás, meus pensamentos andam seguindo exatamente essa linha de raciocínio ultimamente. É um perigo deixá-los livres. Tento me distrair ao máximo, mas com uma brecha mínima, o passado volta mais vivo do que nunca e eu me sinto estranha. Bom, acho que já comecei o desabafo. Hoje acordei as 10 horas da manhã, por ter me demorado na sala mais do que devia - muito mais do que devia, pra ser sincera - e fiquei com o pijama azul de bolinhas amarelas até as 6 horas da tarde, quando minha mãe furiosa obrigou-me a tomar banho e me vestir decentemente. Depois do banho comi tanto que me senti mal. Passei o dia lendo aquela história de vampiros. Não devia deixar isso me influenciar, mas é impossível. Cada vez que leio, lembranças voltam como um meteoro e minha cabeça dói. Meus dias andam tão normais, que sinto um medo me congelar por dentro. Minha vida está normal e eu tinha prometido a mim mesma nunca deixar chegar a esse ponto. Desculpe. Eu quero mudar, mas não vejo saída. Eu imaginei tudo diferente. E isso só me mostra que tudo que você planeja não acontece. É inútil sonhar. O fim de semana foi insuportavelmente perfeito. E eu tinha medo que acabasse, mas acabou. Eu não precisava pensar em nada, meu celular estava desligado, ninguém sabia onde eu estava e a maioria das pessoas que realmente me importavam estavam lá, naquela barraca, dormindo a altura dos meus olhos. Destacando: A MAIORIA, não todos. Um mês se passou. Será que vai ser diferente dessa vez? Por um segundo acho que sim - por um segundo.


"Vou nascer de novo, lápis, edifício, tevere, ponte. Desenhar no seu quadril. Meus lábios beijam signos feito sinos. Trilho a infância, terço o berço do seu lar.''