terça-feira, 6 de abril de 2010

Vou subir a montanha de pés descalços.

''A vida inteira pra me achar, só pra me perder no fim. Quem me encontrar, por favor, devolva-me.''
Ontem programei meu dia pela primeira vez nessas férias. Talvez porque pela primeira vez tivesse algo pra fazer. Fui ao banco, à  locadora, à cotureira, revelei fotos e voltei pra casa meio-dia para fazer o almoço. Assisti à um filme e me vesti para ir à piscina. Mas estava perfeito demais e acabei descobrindo que a piscina estava fechada. Sem mais opções fui à casa de uma amiga da minha mãe. Sentei na grama, tomei chimarrão, comi pipoca. Depois de algum tempo apareceu o marido dela, me olhou e disse: Gabi, aproveite a tua idade, a beleza da juventude e essa mania de achar que tudo na vida é fácil (não sei porque, mas acho que ele me ouviu tentando convencer a minha mãe a passar uns dias em Floripa). Sabe - continuou ele - a gente evolui até certa idade, depois, tudo começa a decair. E eu não estou falando fisicamente, acredite, isso é o de menos. O pior de tudo são as perdas. Cada perda deixa um buraco aqui dentro, no final da vida morremos ocos. Tentei descontrair dizendo que devemos levantar a cabeça e não se deixar abater pelos problemas da vida, ma o fato é que ele me deixou pensativa. Agradeci pela piscina estar fechada: penso, logo existo.
Conhecem aquela frase: Envelhecer é como escalar uma montanha, podemos estar cansados, mas a vista é cada vez mais linda. Depois dessa conversa, fiquei na dúvida. Não deve ser bonita para todos. Essa tal vista deve ser como olhar para o passado. É claro que a maioria vai olhar para trás e ver os filhos criados, os objetivos conquistados. Mas meu medo é olhar para trás e ver a vida vazia, sem sentido. E se quando chegar ao final surgir a pergunta: Era só isso?
Depois de um tempo chegou uma mulher e um menino. Ela não tinha dinheiro nem pra pagar um pacote de erva, estava fumando e reclamava que OS pais das crianças não pagavam a pensão. Fique imaginando qual seria a vista que essa mulher teria ao chegar no alto da montanha. Será que as perdas que o homem falou também nos deixam mais leves para subir a montanha mais rápido e tudo acabar de uma vez?
Se um dia eu sentir esse vazio, se as perdas começarem a chegar e tudo se dissolver por dentro, vou preencher-me com uma caixa absurdamente abarrotada de lembranças. Quero estar bem pesada para subir a montanha bem devagar e ter tempo para apreciar a vista. Vou de pés descalços para sentir cada pedrinha do caminho.
Obs: Texto encontrado em uma pasta qualquer num inspirador dia de férias, resolvi publicar!

Um comentário:

  1. Amei! Lalalala
    Como tu fã e leitora assídua das tuas publicações digo, Livros Gabi, livros.
    Escreva-os e eu os comprarei!
    Beeijos ;*

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