sexta-feira, 11 de junho de 2010

Procura-se.


Algumas pessoas pertencem a nós por pouco tempo. Reformulando: Algumas pessoas convivem conosco por pouco tempo. Afinal, nem eu mesmo me pertenço. O fato é que algumas pessoas fizeram parte da minha vida e sumiram. E eu queria muito saber o que aconteceu com elas. Se morreram, casaram, ficaram ricas ou se mudaram pra França. Eu tinha uns oito anos quando minha mãe trocava de empregada a cada mês. Nenhuma servia. Em umas dessas trocas, apareceu uma mulher loira, alta, com unhas vermelhas e muito bem vestida. Eu juro que não lembro o nome dela. Só lembro que ela fazia doces maravilhosos e que não saía na rua sem salto. Minha mãe não perdeu o costume e ela durou um mês lá em casa. Gostaria de saber se ela continua pintando as unhas de vermelho, se abriu uma confeitaria ou se num tombo de salto alto quebrou a perna. Eu estava na sexta série, eu acho, quando um menino se mudou pra minha cidade. Ele se chamava Paulo e tinha uma onda gigante no cabelo. Isso lhe rendeu o apelido de Paulo da onda. Ele era inteligente e esforçado. Ficamos amigos, mas ele foi embora pouco tempo depois. Queria saber se ele está trabalhando na Nasa, se conseguiu tirar a onda do cabelo ou se assumiu a identidade e pra disfarçar, virou surfista. Há alguns anos atrás um cara tentou assaltar a nossa casa. Ele tinha uma faca e um saco na mão pra por os pertences roubados. Meu pai ouviu barulhos estranhos e chamou a polícia. De tão burro o ladrão tropeçou em um corrente que tinha no chão e a polícia chegou a tempo. Ele disse que só queria um pedaço de pão. A polícia disse que não precisava de uma faca pra pedir pão. E ele: Mas e como que eu vou cortar depois? haha! Queria saber se ele virou padeiro, se foi preso ou se conseguiu emprego em um circo. Eu poderia citar 100 pessoas aqui. Mas seria um texto chato e desinteressante até pra mim. O fato é que aprender a lidar com perdas é essencial. Se deixarmos abrir um buraco em nossos corações cada vez que algo ou alguém resolve sumir, quando um novo jato de novidade chega em nós, escorre pelos buracos perfurados pelo tempo. Meu coração anda uma peneira. Eu me perco de mim mesma todos os dias. E quando acho que me encontrei, não me conheço mais. Tem uma propaganda que anda passando na tv, de margarina Becel: ''Se você pudesse enxergar seu coração, não cuidaria melhor dele?'' Nas imagens aparecem pessoas andando com seus respectivos corações nas mãos. Eu agradeço a Deus por ter posto o coração em um lugar seguro e inatíngivel por meras mãos leigas. O meu já teria sido perdido a tempos, ou quebrado, ou fugido. Quanto ao coração estilo peneira: nada que uma fita durex, uma super bonder e uma dose de realidade não curem. Quem me encontrar, por favor, devolva-me.

Um comentário:

  1. (...)E num certo dia eu olhei para uma amiga e perguntai: "O que hove com aquela guria, a irmã da Carol?". Depois de um tempo descobri que ela não era só uma guria, ou apenas a irma da Carol.
    Ela escreve textos fantásticos e ainda não se tocou que tem um (com o perdão da palavra) puto de um talento!

    Deixe estar irmã da Carol.

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